A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, está com o discurso afiado ao abordar o assunto “emendas parlamentares”. Lula sancionou o Orçamento 2024 com o valor de R$ 53 bilhões em emendas, montante recorde e superior ao negociado em 2020 por Bolsonaro, de R$ 45,40 bilhões. As emendas, tradicionalmente, são usadas por parlamentares para irrigar suas bases nos estados: mais com o objetivo de direcionar obras para onde têm retorno eleitoral do que após análise criteriosa antes da distribuição dos recursos.
O presidente Lula ainda vetou, ao sancionar o projeto, R$ 5,6 bilhões das chamadas emendas de comissão, o que irritou o Congresso. No final, ficou na medida para a experiente presidente do PT, que tem enfatizado os seguintes pontos:
1-Sim, R$ 53 bilhões em emendas é valor ultrajante, garante Gleisi, apesar de reforçar que não é contra esse tipo de recurso – afinal, ela mesma já se beneficiou dele e há parlamentares do PT que continuam se beneficiando;
2-“Aí, o presidente Lula veta R$ 5,6 bilhões e o pessoal do Congresso fica bravo, chateado”, disse Gleisi a O Globo, linha de pensamento que “tira” o peso do Governo Federal de ter negociado valor recorde em emendas em prol da governabilidade;
3-Por fim, quando é questionada sobre o fato de Lula ter criticado o chamado orçamento secreto do governo Bolsonaro, mas, paradoxalmente, as emendas parlamentares estarem numa crescente, Gleisi garante que só aconteceu porque a base do governo não tem maioria no Congresso e, dessa forma, fica refém do Centrão.
O veto de R$ 5,6 bilhões tem sido fundamental para o jogo, quase como uma cortina de fumaça. De certa forma, o governo Lula emplaca o discurso de que fez cortes ao montante considerado absurdo. Ao mesmo tempo, o valor aprovado das emendas, mesmo com o corte, não pode ser considerado insuficiente para requerer governabilidade. E, claro, a culpa de tudo isso é do Congresso, que sempre vampiriza as boas intenções do Executivo.