Nunca, em toda a História, houve tantas possibilidades de aceder, vigiar e desafiar a autoridade. Mas as pessoas também nunca se sentiram tão frustradas com sua capacidade de fazer com que a política seja um pouco diferente.
Para agravar um pouco tudo isso, devemos reconhecer, de forma sincera, que as pessoas não sabem exatamente para que serve a política.
A incerteza apoderou-se dos governantes e também dos governados.
Os seres humanos, especialmente as autoridades, costumam ser acometidos de um estranho paradoxo: tomar atitudes totalmente contrárias aos interesses da coletividade. Esse estranho fenômeno que tomou o meio político como coqueluche foi batizado pela historiadora norte-americana Barbara Tuchman, na década de 80, de “marcha da insensatez”.
A crise que estamos vivendo é um processo complexo que avança tão rapidamente, que ainda não tivemos tempo suficiente para entendê-la.
Nunca tantos tiveram acesso a tanto conhecimento e se mostraram tão resistentes a aprender alguma coisa. E isso pode se justificar pelo próprio comportamento humano, ancorado no que a psicanálise conhece como “personalidade oculta”.
Um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) revela como as redes sociais reforçam a propensão humana a buscar informações que se alinhem a ideias preconcebidas. A operação mental de dar atenção às evidências que sustentam nossa teoria e nosso modo de pensar, na psicologia, também tem nome: viés de confirmação.
Normalmente, usamos o que sabemos para tirar conclusões sobre o que não conhecemos. Graças ao poder multiplicador das redes, a crítica adquiriu dimensões de linchamento.
Em ‘O Animal Moral’, Robert Wright divaga sobre nossa parcialidade: “O cérebro é como um bom advogado: dado um conjunto de interesses a defender, ele se põe a convencer o mundo de sua correlação lógica e moral, independentemente de ter qualquer uma das duas. E tal como um advogado, o cérebro humano quer vitória, não verdade”.
O fato de estarmos sempre tentando convencer a nós mesmos e aos outros de que estamos certos não significa que tenhamos sucessos em todas as tentativas. Somos melhores ao julgar as razões dos outros do que ao criar nossas próprias justificativas.
A nossa participação na construção do Estado ainda é muito pequena. Não dá para condenar quem se aventura no campo político, sem que estejamos fazendo a nossa parte. As cobranças devem existir como parte do processo democrático, mas é importante que estejamos preparados para assumir certo protagonismo na cena política.
O fato é que há políticos bons e ruins. E é certo que não são eleitos os bons, dizem alguns. Se é verdade, isso deveria preocupar mais a nós mesmos do que a eles. Concorda?
A política não é um amontoado de ladrões proprietários de malas recheadas de dólares e reais. Eles estão aí, também na política. Mas não são a Política.
Grande pensador da política e da sociedade, o grego Aristóteles cunhou o conceito de que o homem em comunidade é animal político que tem como uma de suas principais missões interferir na construção do Estado. Nesses tempos de muita indignação e pouca participação, estaríamos, portanto, marchando no caminho da irresponsabilidade.