O planeta aguardava, em suspenso, o desenrolar de toda a crise provocada pelo contra-ataque iraniano a Israel, desferido no último dia 13 de abril. Havia receios de uma escalada para um conflito regional. Há uma estratégia do governo de Israel, chefiado pelo ultradireitista Benjamin Netanyahu, de provocar esse conflito, tentando atrair os Estados Unidos e a OTAN em sua defesa. É uma forma do líder manter-se no poder, que ocupa de forma bastante frágil, em razão dos inúmeros processos que responde por corrupção.
No plano econômico internacional, o grande temor era por uma escalada do preço do barril de petróleo. Mas não foi isso que aconteceu. Conforme noticiado pelo Estadão, no primeiro dia útil após o conflito houve normalidade no mercado e a cotação do petróleo chegou a operar em queda. Nesta tarde a cotação do óleo tipo Brent recuou 0,48%, com o barril vendido a US$ 90,02.
Especialistas acreditam que, como o ataque a Israel por parte do Irã já era esperado, o mercado se organizou. “O mercado entende que há uma baixa probabilidade de contraofensiva israelense no curto prazo. Isso acaba reduzindo os ânimos dos agentes, reduzindo os receios ligados a um aumento dos conflitos ali na região e acaba gerando essa pressão as cotações”, explicou Bruno Cordeiro, analista de mercado da consultoria StoneX ao Estadão.
Os conflitos no Oriente Médio, a maior área de produção de petróleo do mundo, afetam diretamente o valor do combustível. Isso gera um efeito cascata, haja vista a dependência internacional desse combustível fóssil e sua ampla utilização nas diversas cadeias econômicas.
No caso do Brasil, ainda que sejamos autossuficientes em petróleo, o aumento do preço do barril sempre afeta a economia, mas em escala menor do que em outros países. Não interessa às nações um conflito no Oriente Médio que envolva o Irã, um dos grandes produtores de petróleo, e que controla o estreito de Ormuz, que dá passagem para o Mar Vermelho a partir do Oceano Índico. O fechamento de Ormuz pelos iranianos, algo que pode ocorrer numa possível escalda da crise, levará ao desabastecimento em escala mundial, por tratar-se de uma via estratégica de comunicação. Para contornar essa via, o valor dos fretes navais irá aumentar e, consequentemente, impactarão o preço final dos produtos, uma vez que as rotas marítimas a serem utilizadas são muito mais longas.
Ainda é muito cedo para sabermos o que irá acontecer de fato, haja vista que há uma frenética movimentação dos governos dos Estados Unidos, da Rússia, da China, da Turquia e dos países árabes no sentido de conter os danos do ocorrido. O Irã contra-atacou em resposta ao bombardeio, por Israel, de seu consulado em Damasco, capital da Síria, em 1º de abril. No ataque, morreram dois altos generais da Guarda Revolucionária. O líder supremo do país, Aiatolá Ali Khamenei, prometeu vingança pelo ocorrido e assistimos à materialização dessa promessa. Um ataque cirúrgico a instalações militares e de infraestrutura estratégica dentro de Israel.
Desde o bombardeio do consulado em Damasco, as autoridades internacionais já aguardavam uma resposta iraniana. Agora que ela veio, as nações estão tentando conter os dois países, evitando uma guerra regional. Israel, que trava uma guerra sangrenta em Gaza, Palestina, desde outubro de 2023, está com sua economia paralisada, com todo parque produtivo voltado para as necessidades de suas forças de defesa e com as fábricas semiparalisadas em razão da falta de matérias-primas e, mesmo, de trabalhadores. Esforços de guerra são caríssimos, e o Estado de Israel está, desde outubro, concentrando nos mesmos todas as suas forças, com consequências brutais para a realidade do país. Calcula-se que já um mínimo de cem mil refugiados dentro de Israel, pessoas residentes no norte do país, fronteira com o Líbano, que foram deslocadas para outras áreas.
Com apreensão o planeta aguarda o desenrolar dos acontecimentos ao longo do dia de hoje. Se for contida a crise, seus efeitos colaterais serão menores. Caso contrário, estamos na iminência de uma nova crise sistêmica em escala mundial, o que não contribuirá em nada para a estabilidade necessária às nações e seus povos. Só nos resta aguardar a solução desse conflito geopolítico na Ásia.