Passados 20 dias de campanha eleitoral oficial e com cenários desenhados pelas primeiras rodadas de pesquisas nos principais municípios do Espírito Santo, é possível perceber quais as lideranças que despontam para a campanha eleitoral de 2026. É muito cedo para falarmos disso? Nem tanto. As costuras realizadas no período de preparação da atual corrida mostram agora caminhos bem construídos rumo aos pleitos de governador, senadores e deputados federais e estaduais que se seguirão.
As dez cidades mais populosas têm quase 65% do total de habitantes e de eleitores do Estado e nelas foram concentradas as energias dos principais partidos e lideranças com aspirações no futuro. Tomamos para essa análise os resultados das últimas pesquisas publicadas e, observando os resultados, ficam destacados, como era previsto na pré-campanha, o governador Renato Casagrande e os deputados federais Da Vitória (PP) e Gilson Daniel (Podemos), além, é claro, dos políticos que vierem a ser eleitos em outubro.
Da Vitória tem mais candidatos a prefeitos e a vices na liderança e busca claramente utilizar esses espaços para uma candidatura ao governo do Estado ou, no mínimo, ao Senado. Em Cachoeiro, principal cidade do Sul do Estado, tem grande chance de sucesso com Theodorico Ferraço. Na Serra, é pouco provável que Audifax Barcelos deixe de estar no segundo turno, ao menos, em Aracruz, Dr. Coutinho pode ser considerado eleito desde hoje e em Vitória e Colatina, o presidente estadual do PP conta com vices integrando as chapas. O único ponto fraco na corrente é Guarapari, onde Zé Preto vem sofrendo para se manter na liderança e vê seus números derreterem.
Enquanto isso, Casagrande atua como um cabo eleitoral que transita pelos bastidores com a evidente força da caneta do Palácio Anchieta e a liberdade autoconcedida de apoiar quem bem entender; quer seja por ações diretas, quer seja por intermediários. Para 2026, governador poderá escolher se conclui seu mandato e tira férias ou se lança candidatura para o Senado, o que daria visibilidade e tempo como chefe do Executivo ao vice-governador, Ricardo Ferraço (MDB), personagem que tem se movimentado pouco nesta eleição, mas alimenta a expectativa de receber a bênção de Casagrande para ser seu nome na sucessão.
O governador Casagrande, mesmo dizendo, antes do período eleitoral, que não subiria em palanques, tem a marca de sua articulação em Vila Velha, Cariacica, São Mateus e Colatina, por exemplo. E mesmo onde o PSB tem candidato, como em Cachoeiro, é difícil imaginar que ele vá se aborrecer de ver o pai de seu vice conquistando a Prefeitura da cidade pela quinta vez. Em toda disputa há sempre interesses explícitos, tácitos ou, às vezes, simplesmente não ditos.
E esse pode ser o caso do presidente estadual do Podemos, deputado federal Gilson Daniel, que atua como uma espécie de personagem oculto. Pouco se fala dele, pouco se veem movimentações mais rumorosas, mas o fato é que ele articulou sua sigla para ser uma das mais vitoriosas neste ano. Em termos de candidatos a prefeito e vice com chance de vitória, a lista inclui Vila Velha, São Mateus, Linhares e, se estendermos a relação para as 11 maiores cidades, também Viana. É difícil decifrar as intenções futuras de Daniel, mas a força que deve extrair das urnas em outubro pode, no mínimo, o colocar como um dos principais cabos eleitorais em 2026.
Já o presidente do Republicanos, Erick Musso, por sua vez, é uma espécie de coadjuvante de luxo. Comanda o partido com boas possibilidades de sucesso no Estado, mas o ex-candidato a senador não se apresenta como protagonista e nem parece desejar, neste momento, o peso e os riscos de colocar seu nome novamente na janela. Em Vitória e em São Mateus, a sigla tem chances de sucesso, em Guarapari, o segundo lugar tende a se tornar uma conquista e na Serra luta, sem muito empenho é verdade, para emplacar seu candidato no segundo turno.
Esse seria o cenário dos principais cabos eleitorais hoje, mas e os prefeitos que venham a ser muito bem votados? Pois bem, a amarração foi tão bem feita pelos caciques estaduais que, em um caso como esse, os vices assumem as máquinas municipais não com a marca dos eleitos, mas com a de seus padrinhos políticos. Vamos imaginar por um instante que todos os líderes nas pesquisas hoje sejam eleitos.
No caso de Vila Velha, se Arnaldinho Borgo desejar ser candidato a governador, assume em seu lugar Cael Linhalis (PSB), indicado por Casagrande. Se Lorenzo Pazolini (Republicanos) tivesse a mesma pretensão, sentaria em sua cadeira Cris Samorini (PP), nomeação de Da Vitória. Assim, as costuras contém eventuais, digamos, vazamentos nos acordos realizados. Uma engenharia política bastante elaborada e muito bem tramada. Agora é ver como caminham os dias a seguir.