Em seu livro ‘O 18 de Brumário de Luís Bonaparte’, Karl Marx afirma que ‘A história se repete duas vezes, primeiro como tragédia e depois como farsa’, e mais tarde o filósofo esloveno Slavoj Zizek acrescentou que a farsa pode ser, até mesmo, mais aterrorizante que a tragédia original e isso é o que parece estar acontecendo na Argentina nos dias de hoje.
No final do século passado, quando o peronista Carlos Menem era Presidente da Nação, a Argentina decidiu ser aliada Extra OTAN, uma decisão que se enquadrou no programa de relações carnais com os Estados Unidos, tal como definido pelo ex-chanceler Guido Di Tella. Eram tempos em que o ‘verão’ econômico justificava qualquer ação do governo porque a maioria do país escolhia fechar os olhos para não ver as consequências que as políticas que estavam sendo adotadas trariam. Eram tempos em que aqueles que, mesmo tempo depois, se perceberam Nac&Pop, classificavam Carlos Menem como o melhor Presidente da história.
O tempo passou e a Argentina ainda sofre as consequências das políticas menemistas, principalmente em termos econômicos e sociais.
Quando pensávamos que era uma má experiência que tínhamos deixado para trás, o povo argentino decidiu que Javier Milei presidiria os destinos do país entre 2023 e 2027 e, em linha com sua aliança externa com os Estados Unidos e Israel, na última semana a Argentina adotou duas decisões que condicionam muito seu posicionamento no concerto internacional de nações.
A primeira delas foi o apoio ao Estado de Israel após o ataque sofrido pela República Islâmica do Irã, praticando um duplo padrão, no qual o direito de defesa é reconhecido para alguns e não para outros, e que incluiu a participação do Embaixador de Israel na Argentina em uma reunião do Comitê de Crise (sim, a Argentina convocou o embaixador de Israel para um Comitê de Crise argentino, pelo ataque iraniano).
A segunda, o pedido argentino de subir um degrau em sua relação com a aliança militar OTAN ao solicitar sua consideração como ‘parceiro global’ desta organização.
Esta decisão, unilateral e sem avaliar nem chegar a um consenso com os demais países da América Latina, coloca a região, e não apenas a Argentina, em um lugar no concerto internacional de nações que a região não ocupava.
A América Latina era uma zona de paz, historicamente membro do Movimento dos Países Não Alinhados, e a ação do governo de Milei vira essa realidade de cabeça para baixo. É muito mais do que a associação global da Argentina à Organização do Tratado do Atlântico Norte, é se posicionar no meio de conflitos bélicos que, de maneira descarada ou disfarçada, a OTAN empreende ao longo do mundo.
É um sinal de alerta, pode ser um salto no vazio.