‘Há mais semelhanças entre a propaganda na ditadura militar e no regime nazista do que pode imaginar nossa vã filosofia’. Essa paráfrase canhestra do trecho de um diálogo entre Hamlet e Horácio, no drama escrito por William Shakespeare, ilustra, a forma infausta como operaram, semelhantemente também no campo da propaganda, dois regimes ditatoriais que dizimaram democracias e vidas, em tempos distintos.
A propaganda foi um dos elementos mais fortes do Terceiro Reich na Alemanha pré-Segunda Guerra Mundial. A persuasão utilizada por Adolph Hitler, formulada por seu estrategista Joseph Goebbels, afetou a população de maneira com que apoiassem praticamente todas as decisões tomadas pelo governo nesse contexto.
No caso da ditadura, que completa 60 anos do golpe neste domingo, 31, a propaganda construída pelos militares no Brasil tinha como objetivo a produção de consensos sobre o regime.
O regime nazista utilizou a propaganda de forma efetiva para mobilizar a população alemã no apoio à sua guerra de conquistas. A propaganda era também essencial para dar a motivação aqueles que executavam os extermínios em massa de judeus e de outras vítimas do regime nazista.
A máquina de propaganda nazista usou muitos tipos diferentes de mídias para espalhar suas mensagens extremistas. Durante os anos em que os nazistas estiveram no controle da Alemanha, fizeram filmes, cartazes, revistas e artigos de jornal para levar suas ideias para as massas.
Fechar ou tomar sob seu controle os jornais antinazistas; escolher quais notícias deveriam aparecer nos jornais, na rádio e nos cinejornais; banir e queimar livros que os nazistas classificavam como sendo “não-alemães”; controlar o que soldados escreviam em suas cartas durante a Segunda Guerra Mundial. Era assim que agiam os alemães no controle do Estado.
As propagandas veiculadas pelo Regime Militar (1964-1985) eram, sobretudo, de caráter ufanista para convencer os brasileiros sobre suas “boas intenções”, das quais, como se sabe, as trevas estão cheias. E distintamente do que ocorreu no Estado Novo (1937-1945) não havia um departamento que regulava a produção de propaganda. Slogans como “Brasil: Ame-o ou deixe-o!” e “Quem não vive para servir ao Brasil, não serve para viver no Brasil”, estampavam de objetos a adesivos nas janelas dos automóveis.
As propagandas do período militar tinham o papel de convencer a população de que aquele regime era positivo. A retórica do avanço econômico, ao enaltecer as grandiosas obras, como a Transamazônica e, é claro, ao invocar o patriotismo contido no futebol, na Copa do Mundo de 1970, faziam parte da estratégia de comunicação difusa daquele governo – se é que se pode nomear aquele período de tal maneira. E
Em solo brasileiro, assim como no país alemão à época da ditadura hitleriana, o Jornalismo também foi alvo de censura: a Lei da Imprensa de 1967, que regulava a liberdade de manifestação do pensamento e de informação, foi o golpe mais duro contra os veículos de comunicação.
O maior dramaturgo da História, onde quer que ele esteja, certamente não haverá de se incomodar com a releitura nefasta de sua obra, que abre este texto. Sua capacidade de retratar os dramas humanos talvez tenham alcançado, 450 anos antes da tragédia, a capacidade dos seres viventes de tamanhas atrocidades. A diferença é que ele não teve a coragem de imaginar que realmente seria possível vive-las.