Dentro do especial de 60 anos do golpe de 1964, A Vírgula selecionou cinco filmes que retratam o período para indicar ao leitor. Cada um com uma temática diferente, as obras ajudam a compreender o horror do período que perdurou por 21 anos na história brasileira. Veja abaixo as indicações e seus respectivos resumos.
Pra Frente, Brasil
É um filme de drama de 1982, dirigido, escrito e produzido por Roberto Farias. O filme é ambientado em 1970, durante o “milagre econômico” do regime militar e a vitória da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo da FIFA, que servem como distração para a perseguição de líderes da oposição pela polícia política da ditadura.
A história gira em torno de Jofre Godoi da Fonseca, um homem de classe média alienado, que é confundido com Sarmento, um ativista político que ele conheceu em um aeroporto antes de seu assassinato. Jofre é erroneamente preso por um grupo ligado à ditadura militar durante a Copa do Mundo. Ele é um trabalhador pacato, casado com Marta, com quem tem dois filhos.
O filme retrata a tortura, apropriação e detenção arbitrária pelo estado, entre outras políticas de alto risco.
O elenco do filme inclui Reginaldo Faria como Jofre Godoi, Antônio Fagundes como Miguel Godoi, Natália do Vale como Marta Godoi, Elizabeth Savalla como Mariana, Carlos Zara como Dr. Barreto e Cláudio Marzo como Sarmento.
“Pra Frente, Brasil” é um filme emocionante que conta a história do Brasil durante o AI-5, a tortura e os assassinatos. Ele desempenha um papel expressivo na exumação da história, capturando inúmeros aspectos da época citada. O filme foi indicado ao Urso de Ouro no 33º Festival Internacional de Cinema de Berlim.
O Que É Isso, Companheiro
É um filme de 1997, dirigido por Bruno Barreto e baseado no livro homônimo de Fernando Gabeira, lançado em 1979, e retrata um importante episódio da história política brasileira: o sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick em 1969.
A trama se passa no final da década de 1960, durante a ditadura militar brasileira, e acompanha a história de Fernando (Pedro Cardoso) e seu amigo César (Selton Mello), que se juntam a um grupo guerrilheiro de esquerda para lutar contra o regime.
Em uma das ações do grupo, eles planejam e executam o sequestro do embaixador americano, com o objetivo de trocá-lo por prisioneiros políticos que estavam sendo torturados pela ditadura.
O filme é notável por sua abordagem da ditadura militar, apresentando uma narrativa popular e envolvente que busca ampliar a discussão e o conhecimento sobre esse período da história brasileira. Ele não apela para o melodrama, mas busca provocar reflexão sobre os eventos retratados.
O filme gerou polêmica na época de seu lançamento, com alguns ex-guerrilheiros e intelectuais de esquerda criticando a forma como o sequestro e os eventos subsequentes foram retratados.
Apesar disso, “O Que É Isso, Companheiro?” é considerado um marco do cinema brasileiro dos anos 90 e uma importante contribuição para a compreensão da história recente do Brasil.
Zuzu Angel
É um filme de 2006, dirigido por Sergio Rezende, que retrata a vida da estilista mineira Zuleika Angel Jones, mais conhecida como Zuzu Angel. Interpretada pela atriz Patrícia Pillar, Zuzu Angel foi uma mulher que, mesmo sem ser militante política, teve sua vida transformada após seu filho, Stuart Angel Jones, entrar na luta armada contra a ditadura militar brasileira.
O filme se passa nos anos 1960, durante a ditadura militar, um dos períodos mais sombrios da história brasileira. Paralelamente ao crescimento da carreira de Zuzu Angel no Brasil e no exterior, seu filho Stuart, interpretado por Daniel de Oliveira, ingressa na luta armada contra as arbitrariedades dos militares.
As diferenças ideológicas entre mãe e filho são profundas: enquanto ele luta pela revolução socialista, ela é uma empresária bem-sucedida.
A trama se intensifica quando Stuart é preso, torturado e morto pelos militares. A partir daí, Zuzu inicia uma busca incansável pela libertação de seu filho e, após a revelação de sua morte, pela localização de seu corpo.
Apesar das ameaças que sofre, Zuzu nunca desiste. Ela denuncia o cruel assassinato de seu filho para a imprensa, intelectuais e pessoas comuns na rua.
O filme “Zuzu Angel” é uma obra importante que retrata com riqueza de detalhes os horrores da ditadura militar brasileira. Ele mostra que somente com luta, a luta por um direito justo, é que se pode alcançar a justiça. Além disso, o filme é uma homenagem a todas as pessoas que lutaram e ajudaram o país a se redemocratizar, fazendo do Brasil um Estado Democrático de Direito.
Batismo de Sangue
O filme foi lançado em 2007 e dirigido por Helvécio Ratton. Baseado no livro homônimo de Frei Betto, lançado em 1983, retrata um dos períodos mais sombrios da história brasileira, a ditadura militar.
A trama se passa no final da década de 1960, em São Paulo, onde o convento dos frades dominicanos se torna uma trincheira de resistência à ditadura militar que governa o Brasil. Movidos por ideais cristãos, os frades “Tito”, “Betto”, “Oswaldo”, “Fernando” e “Ivo” passam a apoiar logisticamente e politicamente o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional, comandado na época por Carlos Marighella.
O personagem central da trama é Frei Tito, interpretado por Caio Blat, que passa por intensas transformações ao longo do filme. Acostumado a passar os dias entre orações e canções, Tito sofre profundamente quando é preso e torturado pelo temível Delegado Fleury. Mesmo após ser libertado, as imagens do terror não abandonam o jovem, por mais que ele tente.
O filme é impactante e expõe de forma crua o que foi a Ditadura Civil-Militar brasileira, com cenas de tortura fortes e realistas. Além disso, “Batismo de Sangue” traz a perspectiva dos religiosos, suas motivações como militantes de oposição ao regime, a experiência após a prisão e a tortura.
“Batismo de Sangue” é uma obra que denuncia a violência do Estado durante a ditadura militar e registra o período após a promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5). O filme foi premiado no Festival de Brasília com os candangos de Melhor Direção e Fotografia, e é uma importante contribuição para a compreensão da história recente do Brasil.
Marighella
Lançado em 2021 e dirigido por Wagner Moura, é baseado na vida de Carlos Marighella. O filme retrata a história do líder comunista, paramilitar e guerrilheiro brasileiro que foi uma das figuras mais importantes na luta contra a ditadura militar no Brasil.
A obra se passa na década de 1960, durante o auge da ditadura militar, e mostra a trajetória de Marighella, desde sua atuação política até sua participação na luta armada contra o regime e aborda sua coragem, ideias revolucionárias e papel como líder da Aliança Libertadora Nacional (ALN), organização guerrilheira que enfrentou as forças opressoras do Estado.
“Marighella” retrata a violência e a repressão do regime militar, assim como a resistência e a luta pela liberdade. O filme recebeu críticas positivas por sua abordagem corajosa e por trazer à tona um período importante da história brasileira. Foi premiado em diversas categorias no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2022, incluindo Melhor Longa-Metragem de Ficção e Melhor Ator para Seu Jorge.