Segundo o Dicionário de Política, organizado por Bobbio, Matteucci e Pasquino, “chama-se crise a um momento de ruptura no funcionamento de um sistema, a uma mudança qualitativa em sentido positivo ou em sentido negativo, a uma virada de improviso, algumas vezes até violenta e não prevista no módulo normal segundo o qual se desenvolvem as interações dentro do sistema em exame”.
Nesse sentido, portanto, o sistema mundo, para usar conhecida expressão do teórico Immanuel Wallerstein, encontra-se em uma superposição, ou entrelaçamento, de crises.
Discute-se se seria a crise do modelo de desenvolvimento, aqui entendido de modo amplo e não apenas econômico, adotado nos últimos 40 anos, aproximadamente, ou se seria uma crise do capitalismo de forma geral. Para esta coluna de hoje, adotaremos a perspectiva de crise do modelo (a crise do sistema ficará para outra oportunidade).
As crises são inúmeras, mas aqui destacamos de forma bastante sumária: a crise da democracia liberal, com as inúmeras forças que condenam seus avanços demasiados no sentido identitário, as maiores contestadoras atuais, localizadas à direita no espectro político, ou aquelas que contestam os limites desigualitários, ou mesmo seu avanço, localizadas à esquerda no espectro político; a crise das mudanças climáticas, evidentes, para além dos relatórios científicos, no aumento dos eventos extremos que temos vivenciado no mundo; a crise do trabalho, com o aumento da exploração dos trabalhadores, bem como com a precarização crescente das condições de trabalho; as crises urbanas, seja pela degradação das condições de vida nas cidades, seja pelo aumento da violência urbana nos últimos anos; e a crise do sistema internacional, com a evidente ampliação do número de guerras e conflitos, e, consequentemente, de mortos e feridos, além de destruição material, e das disputas entre os vários países e sistemas de alianças existentes.
Evidente que o diagnóstico das crises é fundamental, será ele, na medida em que se torne predominante entre as forças políticas, culturais e sociais nos diversos sistemas políticos nacionais, que conseguirá construir uma aliança entre conjuntos dessas forças para poder enfrentar todos esses problemas e desafios.
Compreender a relação dialética entre os sistemas nacionais e articulações internacionais, aceitar os limites que o conhecimento científico nos coloca aos objetivos de desenvolvimento, articular os legítimos interesses e necessidades dos cidadãos e das nações e, por fim, estabelecer o que é emergencial, urgente, necessário e significativo, são os grandes desafios que se nos colocam. Não é fácil, com certeza. Se fosse, como diz um amigo, já teria sido feito.
Os líderes e movimentos políticos, as forças sociais organizadas e cada cidadão que reconhece essas crises como significativas têm que, no escopo de suas possibilidades, agir com o sentido de importância que elas têm.