O deputados estaduais do Espírito Santo Denninho Silva (União Brasil) e Marcelo Santos (Podemos), que é presidente da Assembleia Legislativa, tentam dialogar com o público mais jovem nas redes sociais quando exibem suas performances / Reprodução Instagram
Historicamente, os políticos dançam conforme a música. Mesmo em um tempo em que as redes sociais ainda não existiam, era comum assistir, nas propagandas eleitorais na televisão, a discursos que bailavam o refrão cantado pelo eleitor em pesquisas de opinião, que transformavam sonhos e desejos em verdadeiras composições agradáveis aos ouvidos.
De uns tempos para cá, os políticos começaram a investir em dancinhas, digamos, mais literais. A aparição, em grande parte das vezes desengonçada, coloca em evidência a tentativa de conversar diretamente com o público jovem, um universo estimado de 29 milhões de votos na faixa etária entre 16 e 24 e que pode fazer a diferença nas urnas neste ano. E fala também em uma linguagem que os mais adultos, adeptos dessa hoje característica universal das redes sociais, entendem.
Acontece que a política é complexa demais para ser resumida de forma tão sintética em vídeos curtos e efêmeros. A busca por humor é uma tentativa legítima de se aproximar do eleitorado, obter alguns milhares de likes e alcançar a (falsa) impressão de popularidade. Curtidas não se convertem em votos. Muitos dos que estão ali, interagindo com as publicações, querem apenas se entreter.
O humor nas redes é uma das formas – não a única – de humanização da figura política, não se pode negar. Todavia o processo de construção do voto passa por um caminho mais longo na cabeça do eleitor. Na hora de escolher um representante, o cidadão está atento a outras especificidades. Embora o voto tenha como âncora a emoção, há velas racionais que dirigem essa escolha.
Não basta abusar de danças, correntes e outras trends para se apresentar ao eleitor mais jovem. A forma com que essas ferramentas são utilizadas é o que importa. Assistimos cada vez mais a danças de funk fazendo o maior sucesso na rede, mas será que todos os políticos compreendem o funk como cultura? E será que o jovem está disposto a votar nesse político que criminaliza o funk, por exemplo?
Da mesma forma que a política está aprendendo a lidar com essas novas ferramentas, os políticos também estão conhecendo os consumidores desses aplicativos. Não é fácil alcançar esse público porque ele não está disposto a abraçar uma política tradicional que não compreende seus anseios. Falar uma linguagem que toca o coração do eleitor vai além do espelhamento de sua conduta; diz mais sobre conhecer seu coração: suas vontades, seus desejos mais ocultos e difusos; entender os reais motivos que o movem a escolher alguém para lhe representar.
O Lollapalooza escancarou o desgaste de Bolsonaro entre os jovens, e especialmente porque ao tentar calá-los provocou uma hecatombe nacional. Ao tentar reprimir os jovens, assistiu a uma reação ainda mais intensa, com críticas ao então presidente. Os jovens transformaram os protestos, que eram restritos ao festival de música, num episódio que contagiou todo o país. Faltou escutar o que dizia intimamente o coração da juventude, e não somente o que sua boca reproduzia.
Como esse é um mundo relativamente novo para o marketing político no Brasil, varia muito o estágio de adaptação desses tiktokers políticos à linguagem que faz mais sucesso por ali. Muitos ainda veiculam posts ao mesmo estilo das velhas propagandas de rádio e TV, com listas de realizações e ataques a adversários, e esse é um caminho completamente errado. A rede social tem linguagem própria, assim como o rádio, a televisão e as mídias impressas. Por outro lado, não é porque se falou a linguagem correta, que a mensagem terá sido comunicada da forma adequada para o entendimento de quem a recebe.
Comunicação é uma área intrinsecamente humana, mas Marketing é ciência, cálculo e, de certa forma, matemática. Conectar esses dois ambientes e sacolejá-los é o que dá samba na política.