Era uma vez um presidente da Assembleia que ao mudar de partido pensou em trocar todos os móveis de lugar e mexer no tempero da comida no fogão da casa nova. Era uma vez um deputado estadual a imaginar que poderia, em poucos dias, desfiar as costuras arrematadas por governador e parlamentares federais. Nem em conto de fadas e nem na realidade da política capixaba deu certo e Marcelo Santos (União Brasil) ficou sozinho no palco do Dialoga Grande Vitória com o candidato da Serra que apoia, Pablo Muribeca (Republicanos), enquanto os quatro prefeitos convidados foram aproveitar o sábado ensolarado para ganhar votos para si e esvaziar as pretensões inconvenientes a seus projetos e a de seus apoiadores que Santos alimentava.
No primeiro ato dessa história, recém-chegado ao União Brasil, Santos acreditou na promessa da direção nacional do partido que seria o presidente estadual em lugar do secretário do Meio Ambiente do governo de Renato Casagrande (PSB), Felipe Rigoni. Os dois, governador e secretário, haviam se comprometido com o tucano Luiz Paulo Vellozo Lucas e encaminhavam a indicação do vice na chapa do PSDB, quando Santos, sem nem colocar as malas no quarto, chegou querendo levar a legenda para a campanha de Lorenzo Pazolini (Republicanos) na capital. Rigoni e Casagrande deram um chega pra lá no deputado e mostraram a acomodação de visitas ao novo inquilino, depois de confirmarem o companheiro de chapa para Luiz Paulo. Santos ficou então liberado para acompanhar quem ele quisesse na corrida, mas, aparentemente, o deputado entendeu que essa era uma licença para atropelar os interesses de todos.
Neste sábado pela manhã, o presidente da Assembleia havia programado um evento megalomaníaco que reuniria Muribeca, Pazolini, Euclério Sampaio (MDB), Arnaldinho Borgo (Podemos) e Wanderson Bueno (Podemos). O prefeito de Vitória e candidato à reeleição enviou a concorrente a vice, Cris Samorini, que na prática está na mesma situação de Muribeca. não é mais que uma candidata. Os prefeitos, bem avaliados e liderando suas campanhas até o momento nas pesquisas, deixaram Santos sozinho com seu candidato a prefeito da Serra e uma certeza: talvez ele não esteja ainda com a potência e a capacidade de articulação que imagina ter. Os interesses dos partidos dos convidados, e as articulações e investimentos políticos realizados para que se chegasse a situação atual em cada município, eram completamente incompatíveis com a foto que seria produzida em um encontro como esse.
Para resumir em dois atores, o deputado federal Da Vitória (PP) e o governador Renato Casagrande têm mais do que as digitais em cada cidade, possuem candidatos e expectativas de longo prazo. O chefe do Executivo estadual indispôs Arnaldinho Borgo com o presidente da Câmara de Vereadores, Bruno Lorenzutti (MDB), ao vencer a queda de braço pelo posto de vice para Cael Linhalis. Em Cariacica, Casagrande, tal como em Vila Velha, dedicou empenho do governo na execução de obras que deram impulso às campanhas. Na Serra, o governador declarou apoio a Sergio Vidigal (PDT) e a seu candidato Weverson Meireles.
Da Vitória venceu resistências para que o PP apoiasse formalmente Arnaldinho Borgo e dedicou muitas horas de negociação para emplacar a vice na chapa de Lorenzo Pazolini. Na Serra, ele tem candidato próprio, Audifax Barcelos, e para o futuro vislumbra um fortalecimento próprio e da legenda que preside para sonhar com voos mais altos em 2026. E é nesse ponto da história que todas as personagens se encontram. A eleição que definirá dois senadores e um novo governador, além dos 30 deputados estaduais e 10 federais, está na alça de mira de cada político que atua nos bastidores do pleito de outubro. De todos, o único mais independente, digamos assim, seria o prefeito de Cariacica, mas Euclério é um dos principais quadros do MDB e o partido não apoia nem Pazolini e nem Muribeca.
E foi nesse emaranhado de interesses e de disputas pelo presente e pelo futuro que Marcelo Santos, um político razoavelmente experiente, atuou como um novato que não considera nada além de suas próprias vontades. Em 2026, quer seja para ter mais um mandato na Assembleia, quer seja para sonhar com outros objetivos, o deputado precisa acordar para o fato de que há mais árvores na floresta e, como diria o senador Romário, o assento ao lado da janela não está desocupado.