A socióloga e professora da American University em Washington, Cynthia Miller-Idriss, é uma das principais estudiosas contemporâneas do extremismo político e do neofascismo, com uma carreira acadêmica focada em entender como essas ideologias se disseminam e se enraízam nas sociedades modernas.
Além de seu papel como professora, Miller-Idriss dirige o Polarization and Extremism Research and Innovation Lab – PERIL (Laboratório de Pesquisa e Inovação em Polarização e Extremismo), de onde lidera pesquisas sobre as dinâmicas de radicalização, com um foco particular na juventude e nos métodos de desradicalização.
Em sua obra “Hate in the Homeland: The New Global Far Right” (Ódio na Terra Natal: A Nova Extrema-Direita Global), Miller-Idriss oferece uma análise de como a extrema-direita global, especialmente os neofascistas, utiliza símbolos culturais, plataformas digitais e outras ferramentas modernas para espalhar sua ideologia de ódio e radicalizar novas gerações.
A autora argumenta que esses grupos têm se adaptado às mudanças tecnológicas e culturais para atrair novos membros e normalizar suas crenças, utilizando desde a moda até a linguagem digital para criar conexões e atrair seguidores, especialmente, entre os mais jovens.
Este artigo, fundamentado na obra de Miller-Idriss, busca responder à seguinte questão: como combater os neofascistas disfarçados, em campanhas eleitorais? A análise das táticas e da linguagem empregadas por esses indivíduos visa identificar as estratégias que utilizam para mascarar suas verdadeiras intenções, contribuindo, assim, para proteger o processo democrático de sua influência perniciosa.
Os fascistas contemporâneos, conhecidos como neofascistas, conscientes da rejeição que suas ideias provocam em cidadãos atentos, adaptaram sua comunicação para se inserir em campanhas eleitorais de maneira sutil. Dentro desse entendimento, eles utilizam uma linguagem cuidadosamente codificada para reforçar suas crenças extremistas, enquanto aparentam defender valores aceitáveis ou até mesmo populares. Essa linguagem, embutida em símbolos, frequentemente, escapa ao escrutínio do público em geral, permitindo que essa ideologia perniciosa se espalhe silenciosamente.
Um dos elementos centrais na estratégia neofascista em campanhas eleitorais é a construção de um artifício retórico denominado: ‘nós contra eles’ ou ‘o bem contra o mal’. Essa tática retórica divide a sociedade em dois grupos opostos: de um lado, o ‘nós’ ou ‘o bem’, composto pelos extremistas e seus líderes, apresentados como os verdadeiros defensores dos bons costumes e, de outro, o ‘eles’ ou ‘o mal’, que abrange todos os demais eleitores e seus candidatos, retratados como inimigos ou ameaças a esses valores tradicionais.
Nas campanhas eleitorais, esse elemento estratégico se manifesta por meio de discursos que demonizam os oponentes políticos, mesmo que, para isso, se valham de acusações falsas ou sem elementos probatórios, desviando o debate das questões centrais que deveriam ser discutidas para melhor informar o eleitor e garantir que seu voto seja uma escolha consciente.
Em adição ao “nós contra eles” ou “o bem contra o mal”, narrativas paranoicas são exploradas em campanhas para manipular o eleitorado. Um candidato neofascista camuflado pode fomentar a ideia de que a população está sob ataque iminente, seja pela suposta “ameaça do comunismo”, pela “ideologia de gênero” ou por um alegado conluio de forças que visam destruir os valores tradicionais. Essa estratégia não apenas apela ao medo e à insegurança, mas também desvia o foco das questões realmente cruciais para o bem-estar da população, permitindo que debates morais polarizantes se sobreponham à discussão de políticas públicas que poderiam melhorar as condições de vida dos eleitores.
Outro aspecto importante é a ressignificação de termos. Palavras como “liberdade”, “patriotismo” ou “família” são frequentemente usadas em campanhas neofascistas para disfarçar intenções extremistas. Esses termos, carregados de conotações positivas para a maioria das pessoas, são apropriados para esconder agendas de exclusão e ódio, permitindo que candidatos extremistas ganhem aceitação e votos de um público mais amplo.
Por último, uma campanha eleitoral neofascista não apresenta um programa de governo com propostas claras, objetivas e factíveis de melhorias para a sociedade. Longe disso, evita buscar soluções por meio da política, concentrando-se em padrões estreitos de moralidade, na ação individual e na negação da necessidade e utilidade das instituições democráticas, que, segundo sua visão deturpada, são irreparáveis e dominadas por um grupo de corruptos, inimigos da população.
Em resposta à questão central deste artigo, a atuação de neofascistas em campanhas eleitorais é caracterizada pela camuflagem e pela manipulação sutil da linguagem e dos símbolos. No entanto, é possível combater essa ameaça desmascarando suas estratégias, expondo as intenções ocultas por trás de sua retórica e educando o eleitorado sobre os perigos dessas ideologias. Ao revelar as verdadeiras motivações e táticas desses candidatos, podemos proteger o processo democrático e impedir que ideologias extremistas se infiltrem e conquistem apoio nas urnas.
Dessa forma, para combater essas táticas, é essencial que a sociedade civil organizada, as instituições reguladoras e os próprios eleitores estejam vigilantes e bem informados. Reconhecer e expor os símbolos codificados e a retórica neofascista é o primeiro passo para desarmar essas campanhas eleitorais nefastas. A educação crítica sobre as táticas neofascistas deve ser promovida, permitindo que o público identifique e rejeite candidatos que, sob a máscara da respeitabilidade, promovam ideologias de ódio.
Assim, é fundamental promover discursos democráticos que valorizem, em amplitude, os reais interesses sociais, combatendo a polarização. A construção de narrativas potentes que desafiem as mensagens de medo e divisão protege o eleitorado da manipulação extremista. Em última instância, a força de uma democracia reside na capacidade de seus cidadãos de discernir entre agendas ocultas e propostas legítimas. Afinal, a eleição é um momento precioso para que os cidadãos discutam opções de melhorias reais para suas condições de vida.