Sempre que o assunto é sobre a polarização entre eleitores de direita e esquerda, um dos principais destaques é o perfil dos evangélicos pentecostais, percebidos como bem mais associados à direita.
Neste artigo, quero ampliar esse olhar, pois os católicos e evangélicos históricos também têm se apresentado com pautas bem conservadoras e apoiado o que chamamos de direita, centro-direita e até extrema-direita. Dentro desse olhar, a força dessas pautas mais de direita ganha um tamanho muito maior do que se focarmos somente nos pentecostais.
Também tem crescido o número de pessoas que se identificam como cristãs, sejam elas católicas, evangélicas ou outras denominações que se mostram ligadas a certos valores morais e religiosos, muito defendidos pelos que se identificam como sendo de direita.
Em estudos realizados pela Enquet no Espírito Santo foi feito o cruzamento do perfil entre religião e ideologia, ambas autodeclaradas pelo eleitor. Observa-se que a maioria dos eleitores é católica, média de 41%, seguido do evangélico pentecostal, média de 21% e de evangélicos históricos, média de 16%. Observa-se também um aumento, comparado a outros anos, de eleitores sem religião, atualmente média de 19%, mais fortemente presente entre os que estão na faixa etária inferior a 40 anos. Alguns se colocam apenas como cristãos.
Analisando o perfil ideológico, 16% se identificam com a esquerda, 35% de direita, 11% de centro.
Quando a análise cruza religião e perfil ideológico, entre os católicos há uma maior tendência de se perceberem mais de direita (média de 32%), do que de esquerda (média de 19%).
Entre os evangélicos pentecostais, há uma clara informação de se perceberem mais de direita (45%), assim como entre os evangélicos históricos (42%). Outras denominações religiosas, com percentuais variando em torno de 3%, mostram uma tendência equilibrada entre direita (28%) e esquerda (28%) e entre os que citam religião Indeterminada, a presença maior (32%) é de esquerda.
Com esses dados é possível sentir a presença forte da ideologia de direita em todas as religiões. Esse cenário mostra também o perfil do que esperam esses eleitores, quando forem escolher seus candidatos nas próximas eleições, em outubro.
Achei interessante também os dados do Iser (Instituto de Estudos da Religião), que levantou a identidade religiosa dos deputados e deputadas federais eleitos e dos suplentes que tomaram posse em 2023. Na informação do Iser,” trata-se de uma fotografia que ajuda a entender melhor as relações entre religião e política no Brasil.”
De acordo com o levantamento, “dos 513 deputados eleitos que compõem a Câmara Federal, 395 (77%) tiveram sua confissão religiosa identificada. O maior número de deputados federais eleitos tem identidade católica (45,41%), o que acompanha a tendência dos registros de religião da população, ainda de maioria católica. Em segundo lugar, estão os futuros parlamentares identificados com a identidade “cristã” (16,17%), seguidos daqueles cuja confessionalidade é evangélica (14,8%). Outras confissões religiosas têm uma presença bem menor, com a manutenção da hegemonia cristã entre os deputados Federais: afrorreligiosos (0,6%), espíritas (0,58%) e uma parlamentar de espiritualidade indígena (0,19%).”
Analisando os dados apresentados no Espírito Santo e entre os deputados eleitos, considerando evangélicos e cristãos, percebe-se uma semelhança nos números levantados pela Enquet, em relação à religião. Fazendo uma correlação com a ideologia, é possível supor que a presença da direita, de valores que se apresentam como de direita, também é mais forte entre os deputados federais, assim como entre os seus eleitores.