Após ser alvo da operação da Polícia Federal Tempus Veritatis e ter seu passaporte apreendido, o ex-presidente da República Jair Bolsonaro convocou um grande ato para a Avenida Paulista a ser realizado neste domingo (25), às 15 horas. Aproximadamente quatro governadores, 11 senadores (13% do Senado) e 92 deputados federais (18% da Câmara) devem participar do evento. Contudo, para além das autoridades, especialistas em ciência política defendem que o ex-presidente precisa lotar a avenida para confirmar seu poder de mobilização.
Entre os representantes da bancada capixaba, apenas os políticos mais à direita confirmaram presença: os deputados federais Gilvan da Federal (PL), Evair de Melo (PP) e Messias Donato (Republicanos), além do senador Magno Malta (PL). O também senador Marcos do Val (Podemos), de acordo com o jornal Metrópoles, foi vetado de subir no trio elétrico principal e, por isso, não deve ir ao ato.
Também aderiram ao evento os governadores Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás.
Ao reunir tantas autoridades, o ex-presidente quer mostrar força política após ser alvo da Polícia Federal. De acordo com especialistas ouvidos por A Vírgula, a movimentação pode surtir o objetivo almejado se a capacidade de mobilização de seus principais atores for confirmada.
Doutor em Ciência Política e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Christian Lynch acredita que o principal objetivo do ato é justamente intimidar os demais poderes. “Acredito que é uma tentativa de impressionar o Arthur Lira (presidente da Câmara dos Deputados), o Rodrigo Pacheco (presidente do Senado) e também intimidar o Poder Judiciário. Para isso, as autoridades são importantes, mas também não podemos ter uma Avenida Paulista vazia”, analisa.
Lynch reforça que o ato em defesa das atitudes do ex-presidente só será válido se tiver ampla participação popular. “Todo o esforço para juntar gente na paulista vai no sentido da intimidação. Não adianta ter apenas 10 mil pessoas embaixo do palanque, porque dessa forma até quem está em cima dele vai pensar duas vezes. É um desafio, uma vez que o recorde de Bolsonaro na Paulista foram 135 mil pessoas em setembro de 2021. E agora ele não está mais com mandato, ficando refém do governo de São Paulo. O empresariado que sempre o apoiou também está receoso e não deve colaborar tanto desta vez”.
De acordo com Gilberto Maringoni, jornalista, cartunista e professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, o grande objetivo do ex-presidente com o ato deste domingo é tirar as acusações de golpe de Estado do campo jurídico e levar para o campo político.
“Ele quer criar uma comoção nacional e está dizendo o seguinte: se colocarem a mão em mim vão acontecer protestos por todo país. Uma prisão de uma liderança como Bolsonaro não se limita a um processo jurídico. São processos também políticos. Para prenderem o Lula foram anos de desgaste público, de investimento pesado na Lava Jato, saraivada de denúncias na imprensa, a saída da Dilma; enfim, um desgaste prolongado do PT ao ponto de quase não ter havido comoção popular na prisão dele. Dessa forma, Bolsonaro desloca o eixo da luta política para ele mesmo e está certo na sua estratégia”, explicou.