O primeiro programa eleitoral na TV deu pistas de que a campanha, que começou gelada, pode se tornar muito animada até outubro na capital. Os dois principais concorrentes, Lorenzo Pazolini (Republicanos) e João Coser (PT) bateram na mesma tecla de união por um município melhor. Pazolini diz ter unido a cidade enquanto Coser afirmou que desde sua última gestão ela vive um período de desagregação que agora precisa ser interrompido para que se retome uma Vitória sem desigualdades. Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) relembrou os feitos de sua administração na década de 90, Camila Valadão (PSOL) reclamou de não ter tempo, Assumção (PL) se apresentou como vítima tal como Bolsonaro e Du Kawasaki (Avante) roubou a cena.
Tudo seguia dentro do roteiro esperado de apresentação de feitos e realizações, o que é absolutamente normal uma vez que são três prefeitos na disputa, quando vieram os 25 segundos do candidato do Avante ao lado de seu vice do PRTB, o Coronel Wagner. Com o tempo mínimo o que a teoria recomenda é que o impacto seja máximo para que o efeito da aparição seja marcante. E assim fizeram os dois, informando que vão fazer um mandato coletivo, bem assim mesmo, completamente aleatório. “Vitória vai ter dois prefeitos”. A promoção vote em um leve dois dificilmente será sucesso de urna, mas para um primeiro dia cumpriu seu papel de abrir um sorriso na audiência e ficar na memória de quem viu.
A aposta na lembrança foi, a propósito, o tema abordado pelo tucano Luiz Paulo. No programa, ele mostrou como Vitória tinha precariedades em quase todas as áreas e relembrou suas ações quando prefeito para enfrentá-las. Destacou que mesmo quando a internet engatinhava no mundo, sua gestão foi a primeira no Brasil a oferecer serviços on-line que existem até hoje. Uma curiosidade que valeu recordar foi que até 1997 as ruas da cidade não tinham placas. Para o capixaba raiz veio à mente o famoso ponto de referência baseado na ideia de que nada mudaria de lugar, nunca. A praça do Santa Marta, a rua do Banco do Brasil, a vida antes do GPS. Luiz Paulo mostrou o passado para, aparentemente, construir uma narrativa que aponta para o futuro, resumido no fechamento de sua aparição. “Acreditamos que era possível viver em uma Vitória do futuro no presente”.
Pazolini, o atual prefeito, tentou se manter no presente, mas escorregou rapidamente na entrada. Apresentou suas realizações em ritmo acelerado, uma técnica usada para fazer parecer que são muitos feitos e nem cabem no tempo determinado. Aqui não há juízo sobre a quantidade e a qualidade da obra do candidato, apenas a explicação do recurso de linguagem visual utilizado para criar um determinado efeito na percepção de quem assiste. Quando a palavra foi dada ao alcaide, ele relembrou que assumiu a Prefeitura em um período muito difícil, durante a pandemia, e se gabou de ter conduzido a administração a um sucesso contra a Covid. “Nos tornamos referência em vacinação no Brasil”, disse. Não mencionou que a pedido do então presidente Jair Bolsonaro, ele invadiu o hospital Dório Silva para filmar leitos de pacientes da doença. Na época, os bolsonaristas negavam a existência de uma crise de saúde pública em período de luto mundial.
Coser iniciou seu programa com tons escuros a partir de uma tela preta. A voz do candidato também apresentava um aspecto triste, um lamento, ao descrever o que ele observou como uma separação da cidade. Utilizou a técnica de fazer o programa se tornar cada vez mais bem iluminado e cheio de cores vivas ao fazer a transição entre os problemas percebidos e as soluções propostas para encerrar nos tradicionais depoimentos da militância do PT em apoio à sua campanha. Em meio a isso, o programa deu alguns destaques pontuais das realizações de Coser nas suas duas gestões à frente da Prefeitura. Tal como Luiz Paulo, ele reivindicou que Vitória precisa retomar um caminho perdido. No caso do candidato do PT, a união da cidade e a redução das desigualdades sociais. “12 anos depois de encerrar meu último mandato sinto dentro do meu coração que as desigualdades aumentaram e agora é hora de unir novamente a cidade.”
Quem também clamou por união foi Assumção. O capitão candidato do PL apresentou um programa no qual mais falou de si mesmo do que da cidade. Mostrou imagens de sua prisão, disse ter sido vítima como teria sido o ex-presidente e fez um discurso mais para se afirmar como candidato de Bolsonaro do que para se apresentar como um nome a ser considerado para assumir o Executivo municipal sob uma frase de efeito de gosto pouco apurado, “capitão armado com fé e coragem”. Utilizou um cenário cuidadosamente elaborado para dar a aparência de campanha pobre e sem profissionais de comunicação e, despiu a farda e a patente que o acompanharam como deputado estadual em todas suas aparições. Nada mais de capitão, o nome dele agora é apenas Assumção. E, para encerrar, lançou um outro slogan bastante curioso: “o 22 mudou o Brasil e vai transformar Vitória..” Interessante menção à eleição de Jair Bolsonaro, mas apenas um reparo deve ser feito: o número que teria mudado o País foi o 17, o ex-presidente não obteve sucesso depois dele.
Por fim, a candidata do PSOL, Camila Valadão, que tem uma das campanhas mais interessantes na internet e nas redes sociais dentre todos os demais, utilizou metade do seu pequeno tempo para reclamar que os partidos poderosos se aliam para ter mais espaço na TV. De fato, as regras são assim, mas em outras cidades, como em São Paulo por exemplo, o PSOL não reclamou, uma vez que Guilherme Boulos, impulsionado por alianças, conta com quase dois minutos e meio no horário eleitoral. As regras poderiam ser melhores, mas elas já estavam aí antes de começar a campanha.