Nesta segunda-feira, o Plano Real completa 30 anos e, diferente das moedas brasileiras que o antecederam, parece ter vigor para sobreviver à morte do dinheiro impresso. Desde seu lançamento, em 1 de Julho de 1994 até maio deste ano, a inflação que corroeu o poder de compra da moeda brasileira foi de 708,02%, segundo o IBGE.
O número, que parece absurdo, nem de longe se compara ao que a geração anterior viveu. Em 1990, o índice fechou em 1.978,07% ao ano. Não há erro de digitação na frase anterior e nem na próxima oração. Em 1993, a inflação foi de 2.477,15%. Ano após ano, a hiperinflação fez cair governos, mudar o nome do dinheiro diversas vezes e tornar instável o planejamento da vida financeira das famílias e do País.
O Plano Real estreou com suas cédulas que homenageiam a fauna brasileira sob uma forte suspeita de que seria mais um entre tantos e não duraria no tempo. Passadas três décadas, criticar os céticos daquele período parece razoável, mas, depois de ter as poupanças confiscadas, reajustes suprimidos e perdas que até hoje são discutidas na Justiça, os brasileiros tinham todos os motivos para a descrença.
O presidente Itamar Franco e o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso apresentaram ao País uma mudança gradual da moeda, que na época se chamava Cruzeiro. No final de 1993, ela passou a ser Cruzeiro Real e perdeu três zeros. Se você tivesse 10.000 Cruzeiros, passaria a ter 10 Cruzeiros Reais. Na prática não fazia diferença por dois motivos: todos os preços perderam as mesmas casas decimais e isso havia se tornado tão comum que os brasileiros já estavam habituados.
Dois meses depois, o governo apresentou o Plano FHC e criou a Unidade Real de Valor (URV), uma espécie de índice que iria fazer a transição para o Real. Era comum no período que as tentativas de controlar a inflação fossem batizadas assim, como os Planos Delfim, Bresser e Collor, por exemplo. O que houve de diferente foi o fato de as mudanças não serem anunciadas de um dia para o outro, algumas vezes pegando de surpresa e causando espanto aos jornalistas que os informavam na TV com o rosto e a voz tomados de espanto.
Fernando Henrique Cardoso, ministro das Relações Exteriores havia sido eleito senador e foi nomeado para a Fazenda, muitos relatos dizem que a contragosto, por Itamar Franco por sua articulação com o Congresso, que não estava com humores para um novo plano após o repúdio causado na sociedade pelos apresentados pelo presidente Collor. O apoio do PSDB, partido de FHC, foi fundamental para a aprovação das medidas que prepararam o ambiente econômico para a nova moeda.
Em 1 de Julho de 1994, o Real é apresentado ao Brasil e passa a ser a moeda oficial do País e o Congresso converteu em lei no ano seguinte, quando FHC, depois de deixar o ministério e ter feito campanha eleitoral com base no sucesso dos primeiros meses do plano, havia assumido a Presidência. Seu primeiro mandato teve o Real, sua estabilização e consolidação como principal eixo político e administrativo.
A importância do Real para a política do País passou a ser motivo de vida e morte de candidaturas à presidente. O trauma da hiperinflação blindou a moeda, não pelos políticos, mas pela sociedade que passou a não admitir a volta da desvalorização fora de controle da moeda.