Em uma reviravolta nem tão impressionante, a Câmara dos Deputados aprovou a inclusão das carnes na cesta básica e, consequentemente, na lista de produtos isentos de impostos. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), não queria. O governo não queria. O relator de plenário da reforma tributária, Reginaldo Lopes (PT-MG), não queria.
Mas aí, depois de votado o texto-base do projeto, vieram os destaques e o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, resolveu querer. Nada mais óbvio para a oposição do que tomar para si a principal bandeira popular da eleição de Lula: o bife no prato do brasileiro.
É até de se espantar como o governo deixou a situação chegar a esse momento. A manobra era evidente e, fosse quem fosse o autor da emenda, teria o apoio do poderoso setor do agronegócio e sua articulada bancada ruralista.
Foi então que o deputado Lopes, após conversas com integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária, anunciou que a medida seria incorporada ao relatório e passou a defender o destaque com o argumento espantoso de que essa é uma demanda do presidente Lula.
De fato, durante a semana passada, ministros informaram ao público do desejo de Lula que a demanda do agronegócio fosse atendida, ainda mais a poucas semanas das eleições municipais. A equipe econômica, que parece querer administrar um país sem povo, fez coro como Lira de que era preciso ter cautela para as carnes não aumentarem a alíquota do Imposto sobre Valor Agregado (IVA). No cálculo burocrata, valem as planilhas de cálculo e indicadores e siglas.
Para Lula e Bolsonaro, vale a repercussão social, popular e eleitoral de anunciar que foi responsável pela picanha do churrasco ficar mais barata. E nem era tão difícil chegar à conclusão que, uma vez colocado em votação, o destaque seria aprovado porque, se aos técnicos importam os números, aos deputados federais interessa não ter o nome ao lado do não para a carne mais barata. Interessa menos ainda ter como desafeto o setor agrário do País.
Dito tudo isso, apesar de Lira ter investido quase um dia inteiro em conversas para barrar a isenção às carnes, aconteceu o que Lula, Bolsonaro e as pedras do caminham sabiam e o placar da votação entre os deputados foi um rumoroso 447 a favor, 3 contra e 2 abstenções. Agora o projeto vai ao Senado, que pode alterar o texto ou aprová-lo e enviar para a sanção presidencial. Ninguém está apostando que, nesse caso, Lula vá vetar.