O senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) ganhou novamente os holofotes. Desta vez pelo pedido de antecipação por parte do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) do julgamento que pode lhe cassar o mandato. Assim, por decisão do desembargador Wellington Emanuel Coimbra de Moura, os processos foram incluídos na pauta da quinta-feira, 8 de fevereiro, e podem selar o destino do ex-juiz.
Algoz de grande parte dos hoje colegas de bancada, Moro teve sua eleição questionada pelas duas principais forças políticas do país, o PT e o PL. Motivo: abuso de poder econômico. Ao se lançar candidato à Presidência da República em 2022, o hoje senador teve, supostamente, ampla exposição em toda mídia, além de recursos muito superiores aos que são destinados a quem quer disputar uma cadeira no Senado, incorrendo assim, de acordo com quem o acusa, em crime.
Mas como se chegou a isso? Estrela da Lava Jato, investigação iniciada em março de 2014 e que posteriormente foi considerada a maior operação de combate à corrupção do país, finalizada formalmente em 2021, Sérgio Moro era considerado por boa parte da sociedade um herói nacional. Afinal, pela primeira vez em muitos anos políticos e pessoas de influência estavam sendo presas e punidas, mesmo que, desde o começo das operações, os métodos para se chegar a este fim fossem constantemente questionados por advogados e juristas de forma geral.
Críticas essas que só aumentaram após Moro aceitar o convite para ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro e, com pouco mais de um ano de governo, pedir demissão alegando interferências pouco republicanas em seu trabalho. Em cada aparição pública, o ex-juiz se esforçava para figurar em um mundo que o rejeitava. Após comandar com braço de ferro a Lava Jato, mantendo inclusive relação direta com o Ministério Público, como revelado no escândalo conhecido como Vaza Jato, ficava cada vez mais claro que ele não seria aceito entre aqueles que defenestrou.
Sob a batuta de Moro, a Lava Jato também teve impacto em um amplo cenário, resultando na queda de presidentes, ministros e outras pessoas influentes. Além disso, trouxe à tona o debate sobre a corrupção no Brasil e a necessidade de reformas institucionais. De forma avassaladora, uma classe inteira de políticos foi jogada no limbo com a pecha da corrupção na testa. O tempo, contudo, não foi aliado do juiz mais famoso do país. Uma a uma as decisões foram caindo em instâncias superiores e, aqueles que até então estavam fora do jogo, voltaram não apenas para a disputa, mas passaram a ditar as regras.
Fã declarado da operação “Mãos Limpas”, investigação de combate à corrupção que ocorreu na Itália nos anos 1990, Moro parece ter, de certa forma, o mesmo final das estrelas daquele caso., que resultou na prisão de centenas de pessoas, incluindo ministros, parlamentares e empresários, e revelou um amplo esquema de corrupção que envolvia subornos, lavagem de dinheiro e financiamento ilegal de partidos políticos. A investigação teve um impacto significativo no sistema político italiano, levando ao colapso de partidos tradicionais e à reforma do sistema eleitoral. Mas acabou elegendo uma figura pouco convencional: Silvio Berlusconi.
Elogiada por muitos como um marco no combate à corrupção, a Operação “Mãos Limpas” também foi criticada por sua influência na instabilidade política e por ter exposto falhas no sistema judicial italiano. Aproveitando a popularidade conferida pela operação, o juiz do caso, Di Pietro, deixou a magistratura e ingressou na política, primeiro como ministro do governo Romano Prodi, em 1996, e depois fundou o seu próprio partido (Valores, de centro-esquerda). Se elegeu deputado, senador e eurodeputado. Mas após diversos insucessos, voltou a ser advogado.
Considera por juristas uma cópia da “Mãos Limpas”, o final, portanto, da Lava Jato e de seus atores não podia ser diferente. Após ser ministro e senador, Moro está perto de voltar à advocacia.