Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954) é um complexo personagem político. Seu biógrafo, o escritor e jornalista Lira Neto, de acordo com matéria publicada no UOL, em 26 de agosto de 2014, afirmou que Vargas foi um homem marcado pela contradição. Ainda hoje, após setenta anos de sua morte, ele continua dividindo opiniões.
Para Lira Neto, “Getúlio tem que ser compreendido exatamente nas contradições”. Ele foi o homem que modernizou o Brasil. Segundo o escritor, “para o bem e para o mal, Getúlio é o personagem mais importante da história brasileira de todos os tempos”. Ainda assim, ele mostrou dificuldade no convívio com a imprensa livre e com o Legislativo.
Apesar da ditadura do Estado Novo (1937-1945), de inspiração fascista e que contou com o apoio militar doméstico, Vargas promoveu a aproximação do Brasil com os Estados Unidos. A participação brasileira no campo de batalha contra as potências do eixo Berlim-Roma-Tóquio fez com que o regime do Estado Novo se tornasse insustentável.
Vargas foi um político forjado na República Velha (1889-1930), oligárquica e antissocial. Ele conhecia profundamente a política como ela era jogada naqueles tempos de arranjos oligárquicos, incluindo os mal-estares de então. Vargas tinha conhecimento de como as práticas de clientelismo e patrimonialismo na administração pública atrasavam o Brasil.
Como governador do Rio Grande do Sul, Vargas se destacou como conciliador. Sua eleição para presidente do Rio Grande do Sul encerrou trinta anos do governo de Borges de Medeiros. O crash da bolsa de valores de Nova Iorque, em outubro de 1929, gerou repercussões diversas na política interna dos países. A nossa “Revolução de 1930” se inseriu naquele contexto.
A partir de 1930 foram criadas diversas leis e instituições voltadas para a proteção dos direitos trabalhistas, como o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, o Conselho Nacional do Trabalho e a Justiça do Trabalho. Promulgada somente em primeiro de maio de 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) buscou unificar a legislação trabalhista e estabelecer novas normas e direitos para os trabalhadores urbanos, como a jornada de trabalho de oito horas diárias, o descanso semanal remunerado, o salário mínimo, o direito à sindicalização e à greve.
Sobre ser acusado de “pai dos ricos”, Vargas argumentou, em discurso de 27 de agosto de 1950, em Recife, que “ricos e pobres são igualmente brasileiros”. Ele completou dizendo que “se aos primeiros, muitos dos quais estiveram à beira da insolvência que agravaria a situação das classes desfavorecidas e dos assalariados, abri oportunidades de reerguimento e facilitei o crédito, consolidando as bases da agricultura e da indústria, também não desamparei os trabalhadores”.
Vargas foi um estadista, segundo Lira Neto.
O escritor afirmou que a comparação de Vargas com qualquer político contemporâneo seria “desleal”. A partir do golpe de 1964, o Brasil viveu períodos de crescimento econômico expressivo e modernização conservadora “sem Vargas e contra Vargas”. A ditadura concentrou renda no topo, fez a inflação subir muito para os mais pobres e endividou externamente o Brasil.