Se nessa segunda (5) o Brasil vibrou com a rainha Olímpica e da ginástica Rebeca Andrade, na terça (6) o mundo da internet teve de conviver com a presepada viral do Ministério das Comunicações. Pasme, a equipe de redes postou no Instagram uma montagem em que retira Rebeca da foto icônica – ao receber seu ouro no solo – e deixa Simone Biles e Jordan Chiles reverenciando um computador.
A ideia “genial” da equipe do ministério foi divulgar o programa “Computadores para Inclusão”, mas acabou excluindo do primeiro lugar uma brasileira negra, a maior medalhista Olímpica de todos os tempos no país e uma das atletas mais carismáticas e reverenciadas destes tempos.
A foto foi apagada e um novo post tentou consertar as coisas, mas o estrago já estava feito. A ideia aqui, entretanto, não é apenas “fritar” o grave erro da equipe do Governo Federal. O foco é debater o trabalho voltado para as redes sociais, que há alguma tempo carrega o vírus da especialidade. Hoje, no mercado, se gritar “especialista em redes” muitos aparecem. Mesmo profissionais da comunicação, treinados a adaptar linguagens, se veem compelidos a dizer que dominam tal universo, mas muitas vezes não é bem assim.
No caso da foto da Rebeca, se trata daquele canto da sereia que nos leva a buscar um post “espertinho” e de olho nas trends a qualquer custo. Na ânsia de engajar no jogo, a estratégia desconsiderou uma análise mais aprofundada e rifou o ser humano para dar lugar à máquina – clichê do passado ainda atualíssimo, num momento em que debatemos o limite das empresas de tecnologia; justamente, ainda, no evento que leva as emoções físicas e mentais além de todos os limites.
Fato é que, além dessas percepções e um profissional preparado que não caia facilmente nas ilusões digitais, ser especialista em redes sociais envolve muito mais do que usar a ferramenta todos os dias, acompanhar trends e conhecer o manejo das funções.
O trabalho requer planejamento, com identificação de persona, análise SWOT, definição de mapa de tópicos, organização, calendário eleitoral com frequência determinada, copywriting aprimorado, a consciência dos conteúdos a serem trabalhados (topo, meio e fundo de funil) e muito mais.
Não posso afirmar, claro, que o profissional do ministério que teve a ideia do post não tem conhecimento sobre todos os aspectos citados aqui. A premissa neste artigo é apontar, entretanto, que existe certa complexidade para lidar de forma profissional com o ambiente digital, mesmo que em muitos momentos o trabalho requeira os famosos “posts simples”.
A campanha política de 2024 começa oficialmente no dia 16 de agosto, daqui a nove dias, período em que também há um festival de “especialistas” em redes trabalhando para diversas figuras públicas. O cenário, além de toda uma técnica necessária, exige conhecimento – ou um bom advogado ao lado – para não infringir as regras eleitorais. Internet não ganha campanha sozinha, mas tirar a Rebeca do pódio pode levar tudo à ruína.