Uma cena bastante inusitada ocorreu na convenção do candidato do PP à Prefeitura de Guaçuí, Vagner Rodrigues, neste final de semana. No palanque, ao lado do concorrente e do deputado federal Da Vitória, presidente estadual da legenda, estavam lá sorridentes, o vice-líder do governo na Assembleia, deputado Tyago Hoffmann (PSB) e o secretário de Estado de Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional, Bruno Lamas, primeiro suplente da bancada estadual do PSB no legislativo. Isso em um Município onde os socialistas têm um candidato considerado dos mais competitivos, o ex-prefeito e ex-deputado estadual Luciano Machado.
A presença do deputado Tyago e do Secretário Bruno Lamas abre a discussão sobre os rumos do PSB no Espírito Santo, no limiar do fim da “era Casagrande”, que deixa o governo do Estado em 2026, e não tem, ao menos até o momento, nenhum sucessor claramente escolhido. Na base do partido, que cresceu ao longo desses nove anos e meio de exercício do governo, reina um sentimento de incerteza quanto ao futuro tanto dos militantes, quanto dos detentores de mandato. Sem o controle da estrutura de Estado a partir da saída de Casagrande, seja para disputar uma das vagas ao Senado, seja pelo fim do mandato, a base do PSB percebe que o partido não mais pode lhes proporcionar a necessária segurança em termos de espaço político e, mesmo, de cargos para o desempenho de tarefas políticas.
O PSB capixaba padece dessa moléstia: a de haver crescido na sombra do governo de seu grande líder, Casagrande, e este jamais se preocupou em preparar alguém que possa sucedê-lo após entregar o poder. O pragmatismo político que caracteriza a maior parte da base do partido indica que, a partir daí, haverá uma possível fuga de quadros para outras agremiações partidárias. Além de pragmática, boa parte da base do partido no Estado pode ser considerada conservadora, não sendo estranho, portanto, que em um futuro próximo vejamos a transferência de diversos quadros socialistas para partidos de centro-direita, direita e, mesmo, extrema-direita.
Guaçuí, onde o deputado Tyago Hoffmann e o Secretário Bruno Lamas foram manifestar entusiástico apoio ao candidato do PP, é um dos poucos municípios médios do Espírito Santo onde o PSB tem chances reais de eleger o próximo prefeito. E justamente lá, ocorre o que ocorreu. As ligações do secretário Bruno com a família do candidato Vagner são antigas, estando nomeados na Secretaria que dirige inúmeros parentes do candidato do Progressistas. Já Tyago, parece estar atendendo ao pedido e as articulações de alguns de seus assessores diretos, que agem sobre as estruturas partidárias desde sempre, visando a construção de projetos de poder individuais.
O candidato Luciano Machado irá disputar as eleições sem a unidade partidária. Luciano é dos mais leais aliados de Casagrande, tendo migrado do PV para o PSB a convite do próprio governador, enquanto exercia o mandato na legislatura de 2019 a 2022. Abdicou de sua candidatura à reeleição como deputado estadual para facilitar a chapa do amplo arco de alianças de Casagrande, se lançando a deputado federal, mesmo sabendo das dificuldades de sua eleição, mas com desejo de contribuir, com sua votação, para a eleição de um colega de partido.
A foto, que ilustra a abertura desta análise, não ficou boa para os dois socialistas. A questão, que gerou um profundo mal-estar entre os socialistas de Guaçuí, e de outras cidades, não se prende apenas ao necessário respeito a uma candidatura genuinamente partidária. Como explicar ao povo de Guaçuí que duas das principais lideranças do PSB, uma delas o deputado Tyago, encarregadas pelo governador de organizar as forças políticas à ele aliadas nessas eleições, não apoiam o candidato de seu próprio partido? Eis aí um dos motivos pelos quais as estruturas partidárias, de quaisquer das ideologias, estão sob intenso ataque, pois parecem atender muito mais aos interesses pessoais de seus líderes do que aos fundamentos partidários que, em tese, os une.