Com duas rodadas de pesquisa do Instituto Futura em Guarapari, divulgadas pelo Folha Vitória, é possível prever que o deputado estadual Zé Preto terá dificuldades em manter a liderança que sustentava desde a pré-campanha na disputa pela prefeitura da cidade. Na primeira entrevista, realizada na última semana de julho, os eleitores deram 44,4% das intenções de voto ao candidato do PP. Passados 30 dias, o instituto voltou a medir a temperatura das campanhas e o parlamentar caiu quase 10 pontos, uma queda muito maior que a margem de erro de 4,9 pontos.
Mas o que estaria por trás do brusco declínio de Zé Preto? Uma das possibilidades é a desastrosa entrevista (veja aqui) que ele concedeu ao jornalista Ricardo Conde, da TV Guarapari. O desempenho do deputado foi recebido negativamente em todo o Estado no mesmo período no qual o Futura realizava seu segundo levantamento. O programa foi ao ar em 21 de agosto e a pesquisa esteve em campo entre os dias 20 e 27, capturando as impressões e a repercussão entre os eleitores.
Durante o programa, Zé Preto usou o termo fatalidade ao se referir às crianças com transtorno do espectro autista e disse que as professoras estão adoecendo ao trabalhar com elas. Em outro trecho, disse que entre as pessoas em situação de rua há maus elementos que precisam ser enfrentados e deixou a entender uma equiparação entre essas pessoas e animais abandonados. Assistindo ao programa, a impressão que fica é a de que, para além de convicções polêmicas, o deputado ainda não realizou a adaptação necessária das habilidades para candidato a cargo legislativo e executivo. Menos que tudo, ele tropeçou em palavras como quem não conhecia o caminho e o trilhava pela primeira vez diante das câmeras.
Esse é um caso muito comum. Parlamentares, mesmo os com longa experiência de tribuna, tendem a precisar de alguma adaptação e treinamento específico para enfrentar as campanhas a cargos majoritários. Não se trata simplesmente do que o deputado disse. Sua postura corporal e a maneira como se apresentou aos eleitores na entrevista deixou a sensação de insegurança e titubeio. A cada resposta, os olhos mirando o teto do estúdio e as falas entrecortadas por hesitações, o deputado escavou a popularidade que a primeira pesquisa havia conferido.
E é difícil imaginar que essa impressão seja facilmente reversível uma vez que a rejeição ao nome de Zé Preto também oscilou de maneira desfavorável a ele. Na pesquisa de julho, 21,8% dos entrevistados disseram que não votariam nele de forma nenhuma. Na deste mês, o índice subiu para 27,8%, também acima da margem de erro. E, pelos dados do levantamento, os principais herdeiros dessas intenções de voto perdidas por ele são o também estadual Danilo Bahiense (PL) e o “não sabem, não responderam”. Bahiense subiu de 2% para 7,2%. Quem declarou indecisão, de 12% para 16,6%. Os demais candidatos, inclusive o segundo colocado Rodrigo Borges (Republicanos), não tiveram variação relevante.
O caso do deputado é um alerta aos candidatos, especialmente nos municípios onde há TV, debates transmitidos e outras modalidades de eventos ao vivo. Falar com o público é uma técnica a ser treinada e aperfeiçoada. Nessa corrida eleitoral de obstáculos, o candidato do PP tropeçou na primeira barreira da pista.